quinta-feira, 29 de maio de 2014

teorema da felicidade VII

O tempo passou e posso dizer que foi a melhor relação que alguma vez tive. Pelo menos, era a ideia que eu tinha... Passámos a ser inseparáveis. Partilhávamos tudo o que havia para partilhar. Acreditei que podia com ele casar. Mas depois começou aquela fase.
Estávamos juntos há um ano e meio. Ele tinha-se mudado para a Figueira da Foz dois meses depois de termos começado a namorar e tinha um apartamento perto de minha casa. O meu negócio continuava, cada vez mais próspero e eu sentia-me orgulhosa por ter conseguido construir o meu sonho. Tudo estava perfeito, até que senti aquele click. Senti a mudança a chegar. Nesse noite, tinha ido dormir a casa dele. Depois de um belo jantar e uns quantos copos de champanhe para comemorar o nosso ano e meio juntos, fomos para o quarto. Mais não preciso de contar... o relógio marcava a 1.25, Mateus dormia e eu não conseguia fechar os olhos nem um instante. O meu coração pesava e parecia que tudo ia mudar, mas nem por um segundo pensei que tivesse a ver com ele. Por isso, passei a noite na cozinha a magicar ideias para melhorar o negócio.
No dias seguintes, nada mudou. A pastelaria estava ainda melhor, tal como a relação. Já eram raras as noites em que ia dormir a casa. A maioria da minha roupa estava no apartamento de Mateus. Tudo o que tinha, eu partilhava com ele. Mudei. Comecei a acreditar em relações duradouras, em famílias felizes. E um desejo enorme cresceu dentro de mim. Queria ser mãe. E mais: queria que Mateus fosse o pai.
Era sábado e ambos tínhamos acordado relativamente cedo, então fomos para a cozinha tomar o pequeno-almoço calmamente. Enquanto ele fazia o café, eu tratava das torradas. Sentámo-nos à mesa e a nossa cumplicidade era visível da lua, por isso achei que era a altura ideal para lhe contar. Suspirei e olhei para ele. Era o momento.
- Tenho tido sonhos estranhos...
Levantou o olhar dos nossos dedos entrelaçados e fixou-o nos meus olhos. Parecia preocupado, mas, ao mesmo tempo, parecia pronto parra troçar comigo.
- Não olhes para mim com essa cara, é verdade! Tenho sonhado ou com bebés ou que estou grávida! - sorri, mas rapidamente troquei a expressão para uma mais séria. Aquele click. Mateus pousou a torrada no prato e largou a mão da minha.
- É melhor não pensares tanto nisso, acho que ainda é muito cedo para pensarmos em tentarmos criar uma familia.
O meu coração parou naquele momento. Como é que lhe ia dizer? Era o tal click sempre a incomodar. Mas já não era só um simples click, era como se fosse o bater de um tambor dentro de mim.
- Mateus, eu estou mesmo grávida. - não sorri, porque sabia que o mais provável era ele não estar muito feliz com a notícia. Estava certa. Olhou para mim, completamente assustado. Abriu a boca. Senti que ia dizer tudo o que sentia, mas voltou a fechá-la e levantou-se da cadeira.
Nesse dia, não o vi mais. Ele saiu de casa e só voltou no dia seguinte, pronto para fazer as malas e para passar uma semana sem o ver.